Escrever é algo interessante, eu achei que ia realmente toda quarta-feira escrever alguma coisa aqui nessa coluna.
Não deu certo, nem sei quantos meses se passaram desde que lancei o segundo texto, pensando aqui enquanto editava um podcast consegui formular uma ideia interessante, então vamos lá.
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Quem está lendo isso aqui e me conhece sabe que tenho uma relação muito próxima a comida, o podcast La Siesta é um resultado disso. Como todo mundo tem coisas que eu não gosto, não quer dizer que tenho ojeriza ou alergia, mas simplesmente não gosto muito, por isso evito.
Essa afirmação “não gosto” é muitas vezes mal vista por algumas pessoas, “não gosto” é tratado como “odeio”, “reprimo”, “você não deve comer também” ou “isso é horrível”. Mas não é assim que penso, não gostar é algo normal, recusar um bolo de cenoura se não gosta de bolo de cenoura, sendo que é apenas um bolo de cenoura comprado numa padaria que não é referência nenhuma pra ninguém, não vejo porque aceitar num caso desses. Agora você vai na casa de alguém e vem a nona da família que trabalhou com confeitaria a 200 anos, é crime recusar uma fatia de bolo dessa mulher. Você vai perdida cidade de Cenoural conhecido por ter um dos melhores bolos de cenoura do mundo, não existe “não gosto” nesse caso, você prova o bolo.
Quando fui no Chile em 2017 estive na cordilheira dos andes, num conjunto de vilas chama Cajón de Maipo, eu não gosto de peixe, mas lá tinha um chamado Reineta, um peixe de água doce pescado no alto das cordilheiras, não interessa que pra eles é normal, do meu ponto de vista de Brasileiro, onde nem montanha existe no meu país, é impressionante. Reineta a la Mantequilla como estava no cardápio, eis que me surpreendo, um peixe que tem textura de uma carne mais densa, saborosa e no formato de um filé, até hoje o único peixe que gostei completamente. Alguns dias antes por exemplo estive no litoral do país, Viña Del Mar, um lugar incrível com uma quantidade de pescados enorme, quis comer alguns pratos baseados nessa cultura, mariscos, mexilhões, alguns peixes fritos. e nada disso me agradou, mas também não há arrependimento, estava do lado do oceano pacífico e não conhecia aquele mundo, se eu não tivesse provado estaria até hoje pensando como que seria.
A uma semana estive junto a muitos amigos da podosfera em Santa Catarina, um deles, habitante do Pará levou camarão e pediu que eu e minha digníssima preparássemos algo com ele. Mais uma vez, eu não gosto de frutos do mar, a Thai também não, mas foda-se, uma pessoa atravessou o país com um isopor de camarão e pediu que nós transformássemos aquilo num almoço para todos, podia ser qualquer coisa, mas fizemos com enorme prazer, da melhor maneira possível, e espero que tenha ficado bom. Saber que alguém tem essa vontade de comer algo que você fez é muito gratificante, não exite “não gosto” que possa superar isso.
No fim das contas o “não gosto” é só um detalhe padrão nas pessoas, que pode ser contornado a qualquer momento, pois esses momentos que são realmente importantes para nossas decisões, no fim das contas o agora é o que mais importa, pra tudo.
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Texto de Mateus Mantoan, se quiser falar com ele o contato é fácil no twitter @mateusmantoan